quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Thereza Di Marzo

Primeira piloto-Aviadora a ser brevetada
Quando a mulher se decide a preterir as funções domésticas pela atividade fora do lar, quase sempre consegue destacar-se, elevando-se além do nível de boa profissional. Mas, quando ela se dedica a uma atividade inusitada para a época, essa ascensão mais se acentua. E, então, vêm as perguntas:
– Quem foi a primeira mulher a voar? – Qual a primeira mulher a ser brevetada?
E logo sobrevém a resposta: Tereza di Marzo!
Tereza di Marzo nasceu em 6 de agosto de 1903, na Praça da Sé, em São Paulo. Filha de industrial, muito cedo se apaixonou pela Aviação.Tratava-se de uma aspiração surpreendente para a época, pois ainda predominavam aqueles vetustos princípios de que lugar de mulher era no lar. Poucas eram as que ousavam exercer profissão fora de casa. Ainda não haviam surgido os primeiros sinais da emancipação feminina.Como é natural Tereza jamais poderia praticar a pilotagem sem contar com o beneplácito dos pais, a menos que assumisse a atitude drástica de sair de casa. O pai era radicalmente contrário à sua pretensão. Entretanto, ardilosamente, trabalhou a concordância materna, sempre mais fácil de conseguir.Vencida a resistência materna, abriu-se caminho para a aceitação paterna e, assim, pôde iniciar seu aprendizado com os Irmãos Robba. Quando estes emigraram para o interior do estado, ela encontrou Fritz Roesler, que era outro fanático pela Aviação, como ela. Com apenas vinte e poucas horas de treinamento, habilitou-se perante a Banca Examinadora do Aero Club Brasileiro, tendo sido aprovada com distinção. Foi no dia 17 de março de 1922, no Aeródromo Brasil, campo de aviação existente no Jardim América, pilotando um Caudron, modelo G-3, de 120 HP, motor rotativo e extremamente barulhento. Estavam presentes os Irmãos Robba, Antonio Prado Júnior, o engenheiro da Prefeitura de São Paulo Domício Pacheco e Silva e o Instrutor Fritz Roesler. Tereza di Marzo tinha apenas 19 anos quando realizou a façanha. No dia 8 de abril de 1922, recebeu o brevê nº 76 de Piloto-Aviador da Fédération Aeronautique Internacionale.Mas aconteceu o imprevisto; uma circunstância não imaginada, e que corta as carreiras mais promissoras. Voando sob orientação de Fritz Roesler, acabaram por se casar, em 25 de setembro de 1926. Após o casamento, dedicada ao marido, dizia ela, quando lhe perguntavam:
“Depois que nos casamos, ele cortou-me as asas. Disse que bastava um aviador na família. Mas nem por isso perdi meu interesse pela Aviação.”
Muito grande deve ter sido a colaboração do casal na divulgação das alegrias da Aviação Civil, mesmo porque Tereza di Marzo aliava a sua habilidade de aviadora a um perfeito trabalho de publicitária. Num avulso existente no Museu Aeroespacial, lê-se:
“Depois de magnífico exame em que foi aprovada com distinção, por vários anos puderam paulistas e brasileiros ver nos céus de nossa terra a Condor dos Ares, que apregoava a todas as mulheres uma mensagem luminosa e sublime de valor e coragem. Inaugurou um novo capítulo na História brasileira. Ninguém jamais esquecerá o São Paulo, um minúsculo Caudron, incipiente como era a própria Aviação, tripulado por uma intrépida jovem que ainda hoje é o símbolo da mulher brasileira.”
Além das 329 horas e cinqüenta e quatro minutos de vôo anotadas em sua Caderneta , Tereza di Marzo realizou dezenas de horas não computadas. Antes de seu casamento com Fritz Hoesler, trabalhou com ele nos hangares, nas oficinas e em topografias aéreas, ganhando muita experiência na mecânica de motores a explosão de aviões e planadores. Vale lembrar que, em setembro de 1922, Tereza realizou um ousado reide aéreo São Paulo-Santos, como parte das comemorações do Centenário da Independência do Brasil. Em 1976, recebeu do então Ministério da Aeronáutica a Medalha de Honra ao Mérito.Em 1986, falecia Tereza di Marzo, uma mulher que tinha no sangue a liberdade de voar e que, aos dezessete anos, na Ladeira Dr. Falcão, onde morava, de frente para o Vale do Anhangabaú e Viaduto do Chá, olhando a tarde pela janela, ao avistar um avião, disse de estalo:

“Vou voar também!”


Ana Mercante - Aviadoras
fonte:sit da Força Aérea Brasiliera
www.fab.mil.br

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